segunda-feira, 21 de julho de 2008

Batman: O Cavaleiro das Trevas, por Wilian


Antes de começar, apaguem de suas mentes quaisquer conceitos relacionados às adaptações de HQs para os cinemas, eles certamente não se encaixam no mais novo longa do Cavaleiro das Trevas. Pois o mesmo está longe de ser ‘apenas mais um’ filme de herói que chega às telas com intuito de agradar as crianças e famílias do mundo.

Seria impossível falar de “Batman - O Cavaleiro das Trevas” sem mencionar a exemplar campanha viral realizada pela produção nos meses de expectativa que antecederam a estréia da película. Foram horas, dias e até mesmo semanas para que cada ‘brincadeira’ do mestre Coringa (Heath Ledger) fosse desvendada. E, a cada solução encontrada, uma nova incógnita caia na rede. Fãs passaram noites acordados realizando atividades que iam de bater fotos de determinados lugares, até correr desesperadamente por avenidas sendo guiados apenas por dicas liberadas pela Warner (esse último envolveu o mundo todo, incluindo o Brasil). Tudo isso para que uma nova imagem ou vídeo fosse liberado. E esse é só o primeiro exemplo a ser seguido...
Outro grande trunfo do projeto foi a determinação em não mostrar absolutamente nada comprometedor durante sua campanha. Mesmo lendo todos os textos, vendo todas as imagens e assistindo a todos os trailers e comerciais de TV é impossível saber mais do que 30% da verdadeira história que envolve o filme.
Imagine o clima e o ambiente concebidos em “Batman Begins”. Agora pense nisso expandido inúmeras vezes: o resultado é uma atmosfera absolutamente nova.
A dinâmica agora é o drama que cerca a vida de Bruce Wayne (Christian Bale); sair vestido de morcego para limpar a cidade durante a noite já não é uma tarefa tão fácil. E isso começa a afetar mais ainda sua vida pessoal, chegando ao ápice de sua decadência nas trevas. O garoto rico que perdeu os pais quando ainda era criança parece não existir mais, nem um vestígio do homem que um dia foi Bruce Wayne é notado. O que vemos ali é uma pessoa dedicada a combater o crime a qualquer custo, ignorando até mesmo seus próprios limites.
E quando o promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) começa a ganhar moral com as pessoas boas da cidade, Bruce vê uma chance de enterrar de vez seus dias como vigilante; deixando o heroísmo para uma pessoa de confiança como Dent. Denominado o “cavaleiro branco” de Gotham, Harvey faz o tipo incorruptível que sonha em dias melhores para a grande metrópole. Mas como nada é perfeito, as qualidades do mocinho não encantaram apenas o lado social e político da cidade, mas também o coração de Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal), o amor da vida de Bruce Wayne.
E as coisas estão realmente longe de serem perfeitas, como foi dito ao final do primeiro longa: a escalada do crime tende a crescer com as aparições de um homem carregado com equipamentos de alta tecnologia e dirigindo um tanque. E a resposta para equilibrar as coisas está em uma pessoa que simplesmente não segue nenhuma regra específica: um psicopata maquiado de palhaço conhecido como Coringa.
O diretor Christopher Nolan (O Grande Truque) fez o que parecia ser impossível: superar as expectativas de todos com relação a esta seqüência. Desde o início, Nolan optou por trilhar os caminhos da realidade, dando um motivo plausível para todos os acontecimentos da película. Eis que sua opção caiu como uma luva no universo do Homem-Morcego; sucesso que certamente se repete no segundo filme. Não há o que reclamar de sua direção, fez exatamente o que deveria ser feito. Até algumas críticas feitas a “Batman Begins” - como as lutas desfocadas - foram atendidas, corrigindo seus antigos erros e melhorando ainda mais o projeto.
Normalmente, a performance do ator principal é a primeira a ser comentada nas críticas cinematográficas. Mas neste caso, devemos “quebrar as regras” e falar do coadjuvante que dá o tom exato que o filme necessita: Heath Ledger (encontrado morto em um apartamento por overdose acidental de remédios em 22 de janeiro deste ano). Ledger vai além de interpretar um simples vilão que adora explodir coisas e intimidar o herói do filme com diversos tipos de ameaças, o ator incorpora o verdadeiro espírito do Coringa e faz um trabalho mais do que marcante. Detalhes básicos como passar a língua toda hora nas cicatrizes em seu rosto representando uma espécie de cacoete - vide os próprios costumes humanos ao perceber um pequeno machucado dentro ou fora da boca - até o de mudar completamente sua voz para dar vida ao personagem fazem de Ledger o ator de destaque maior destaque dessa nova saga do Cavaleiro das Trevas nos cinemas.

Mas não é por isso que Christian Bale (O Sobrevivente) manteve-se apagado durante os 152 minutos de exibição. O astro também deu show interpretando um Bruce Wayne melancólico e desmotivado em determinadas ocasiões e um Batman completamente revigorado e cruel quando era preciso. Mesmo sendo a primeira vez que o ator trabalha em uma seqüência, nota-se o empenho a dedicação do mesmo para com a produção. Bale faz questão de passar a sensação de um homem completamente desmotivado pela vida que leva, carregando o ambiente com um ar de tristeza, onde o drama fala mais alto.
Outro destaque, Aaron Eckhart (Sem Reservas) passa de um simples ator acostumado com pequenos planos a uma grande surpresa no maior filme do ano. Interpretando com extrema qualidade o mocinho cuidadoso e gentil, Eckhat nos proporciona uma das mais agradáveis atuações do longa. Mostrando como um homem pode ter seus valores alterados em um curto espaço de tempo, fazendo com que a porta para o caminho das trevas se abra bem na sua frente. Não é segredo pra ninguém que Harvey Dent viria a se tornar o vilão Duas-Caras no decorrer da fita, mas o surpreendente modo como isto é mostrado ao publico pagante é mais um dos motivos para agradecermos a Christopher Nolan e também a Aaron.
Desta vez tendo tanto destaque como os demais protagonistas citados acima, Jim Gordon (Gary Oldman) é mais do que fundamental nos momentos chave do roteiro. E, como não poderia deixar de ser, Oldman (Harry Potter e a Ordem da Fênix) não deixa nada a desejar; fazendo de seu personagem um policial beirando as raízes do descontrole.
Até mesmo Rachel Dawes - que em “Batman Begins” havia sido interpretada pela superficial e despreparada Katie Holmes - tem um papel mais importante no roteiro, amarrando mais ainda a trama. E a troca de atrizes foi uma das melhores decisões tomada pela produção, Maggie Gyllenhaal (As Torres Gêmeas) deu uma nova personalidade à personagem, fazendo com que a atuação sem sal de sua antecessora caia no esquecimento.

Michael Caine (Filhos da Esperança) retorna ao papel do sempre fiel mordomo de Bruce Wayne: Alfred. Morgan Freeman (A Soma de Todos os Medos) também retoma seu personagem em “Batman Begins”. E nem é preciso falar que os dois ganhadores de Oscar roubam todas as cenas em que participam.
Como se tudo isso já não fosse o suficiente, o roteiro do longa é um dos mais impecáveis já apresentados. Palmas mais uma vez a Christopher Nolan que o assina junto de seu irmão Jonathan. É como se cada elemento fosse jogado com extremo cuidado na tela para que não houvesse uma sobrecarga por parte da história, deixando a película extensa e complexa demais. Mesmo os detalhes que normalmente passam a impressão de falha ou buraco na trama são preenchidos com extrema qualidade.
Ou seja, “Batman - O Cavaleiro das Trevas” está longe de ser um simples filme de herói; muito pelo contrário, foge totalmente ao gênero. Torçamos para que as próximas produções sigam o exemplo e encarem com mais seriedade as adaptações de quadrinhos que tanto rendem aos estúdios Hollywoodianos. Pois fica aqui uma verdadeira aula de como se faz um filme policial/dramático - ou como quiser, a película pode ser encaixada em diversas espécies.
Parabéns a Christopher Nolan e toda a sua equipe de atores e produtores, vocês deram vida a um divisor de águas nos mais variados quesitos da indústria cinematográfica.>

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